Inspirações

Como virei blogueira de viagem: a transição de carreira


Quem diria! Eu mesma não imaginava que meus 10 anos no serviço público seriam abandonados para virar blogueira de viagem. Já contei um pouco sobre a história do blog, mas agora vou contar como foi a minha transição de carreira.

Foto Tiago Machado

Minha graduação é em psicologia, mas nunca atuei de verdade na área. A vida foi me levando para a área cultural e em 2008 entrei como terceirizada no então Ministério da Cultura. Por dois anos trabalhava 8 horas por dia, 5 vezes por semana e confesso que, naquela altura, estava feliz. Sempre gostei de diversidade cultural, de manifestações artísticas, de arte, mas de repente, o contrato com a empresa terceirizada foi encerrado por falta de recurso e fiquei sem saber o que fazer. Logo surgiu um edital para consultoria especializada pela UNESCO e tentei. Selecionada, prestei 1 ano de consultoria elaborando produtos de análise de ações culturais em várias regiões do Brasil. Meu plano, quando terminasse o contrato, era mudar para Austrália, estudar inglês e viver fora.

ORGANIZANDO SUA VIAGEM

Mas a vida da voltas, me apaixonei, comecei a namorar. Todos sabem que o coração as vezes é mais forte que a cabeça. Além disso, fui convidada para ocupar um cargo de coordenadora na mesma Secretaria que havia trabalhado anteriormente no Ministério da Cultura. Acabei desistindo da Austrália, e fui coordenar ações de formação de gestores públicos e conselheiros de cultura pelo Brasil, em parceria com Universidades Federais. Isso era meados de 2012, com meus 20 e tantos anos, e crente que, por estar em um cargo comissionado, na próxima mudança de governo eu cairia.

Mas não, passei por dezenas de mudanças, não fui exonerada, continuei surpreendentemente ocupando meu cargo “inseguro” e trabalhando, por vezes, mais de 8 horas diárias. Confesso que viajava bastante a trabalho e isso era o que me desafogava. Conheci cidades que não teria ido caso não trabalhasse lá, e nessas idas e vindas acabei viajando por 23 estados do Brasil, conhecendo o rincão desse país e também pessoas incríveis. Mas nada dura para sempre, essas viagens cessaram e eu fui ficando cada vez mais presa na minha baia de trabalho, enclausurada em um prédio alto e espelhado com vista para o lindo pôr do sol de Brasília. Essa foto traduz demais minha vida naquele momento, atrás do vidro vendo a beleza da vida acontecendo lá fora.

Em 2016, depois de muita terapia e rodeada de dúvidas e incertezas, resolvi juntar meus roteiros de viagem e dicas de alimentação saudável em um mesmo lugar. Viajar sempre foi uma paixão visceral, viajava desde os 14 anos, já tinha rodado esse Brasil inteiro até de ônibus, vendido artesanato em Trancoso, acampado em cachoeiras, praias, me deliciado em alguns países. Essa ideia de lançar um lugar para compartilhar dicas foi sugestão de amigos e acatei desacreditada, porém corajosa. Pensei em logomarca, pesquisei sobre como fazer um blog, estudei sobre redes sociais, comprei cursos que nunca terminei. Finalmente bati o martelo no nome Leve na Viagem, que remete à leveza que sempre busquei na vida, à natureza, à vida sendo de fato leve. Contratei serviço de uma design para logo e para o desenvolvimento inicial do site que montei na minha cabeça.
Pronto, uma nova fase estava começando!

 

Blogueira de Viagem iniciante

Não, não era o plano. Esse nome ainda me parecia muito pejorativo, não sabia muito bem como poderia ganhar dinheiro com isso, mas mesmo sem saber quase nada, eu segui. Segui no meio das minhas incertezas, dos meus medos e receios, mas, sobretudo, no meio dos meus sonhos.

Meus primeiros destinos do blog foram os do meu primeiro mochilão fora do Brasil. Em 2008, viajei 35 dias pela Bolívia, Peru e Chile e fiz uma das viagens mais incríveis da minha vida. Simbolicamente, lancei o Instagram em junho de 2016, na minha segunda ida ao Deserto do Atacama, em terras chilenas. Me lembro de colocar a primeira foto e não ter certeza do filtro que usava, do texto que escrevia, do jeito que postava. Estava com vergonha do que achariam de mim, do meu estilo de viagem, da maneira como eu relatava, do nome que eu tinha dado, de tudo. Mandei para todos os amigos e familiares, e mesmo envergonhada, pedi que compartilhassem e divulgassem. Comecei a seguir diversos perfis de viagens para me inspirar e aprender, seguia quem me seguia, e a cada curtida, comentário e seguidor novo, era uma pequena grande conquista.

O blog foi lançado uns dias antes, já com todos os programas de afiliação (aqueles que eu divulgo e tenho links específicos e a cada reserva feita por eles eu ganho uma comissão), exemplo: Booking.com, Seguros Promo, O Meu Chip, Rentcars, Civitatis, mas ainda não conseguia divulgar.

⇒ Aliás, lembre de fazer suas reservas nesses links, isso ajuda na manutenção do blog! ⇐

Era tanta insegurança que para eu começar a dizer que tinha de fato um Blog foi um parto… É lá onde está o seu conteúdo, a sua escrita, a maneira como vê o mundo e é onde está ou não a qualidade das suas dicas. Me bancar foi um processo.

Servidora Pública + Blogueira de Viagem = insanidade

Eu não queria mais estar no Ministério, a verdade era essa, e o Leve na Viagem veio como reflexo de uma grande insatisfação com a vida “enclausurada” que eu levava. Chefes, computador, entregas, prazos, prédios, trânsito. Era o salário no final do mês que me segurava, afinal, tinha contas para pagar. Eu ainda era servidora pública em 2016 e fazia uma especialização em gestão pública de cultura na UFBA queera  itinirante pelo nordeste. Imagina, eu estava para surtar, e com a demanda do blog, minha vida virou uma bagunça total e decretada.

Comecei a juntar o que podia de grana e a sair menos de casa. Meu tempo era dedicado a tal carreira de blogueira de viagem: à escrita, à edição de foto, ao estudo, às viagens. Na época eu namorava, queria inserir dezenas de viagens para ter mais conteúdo e ainda precisava trabalhar no MinC. Confesso que beirava a falta de limite, e talvez por não conhecê-lo ainda, não tinha tempo para respirar.

No final de 2017 e início de 2018 eu tinha me separado, tanto por questões do relacionamento em si quanto pelo ritmo e foco que eu dava para o meu novo negócio. Depois de 1 ano e meio de Leve na Viagem, algumas coisas bem positivas começaram a acontecer e foram me deixando mais animada.

Nessa altura meu trabalho já estava beirando o insuportável e eu estava no Ministério só de corpo, cabeça, alma e coração estavam totalmente no Leve na Viagem. Luísa Pires, minha estagiária na época, começou a me ajudar nas horas vagas com revisão de texto, produção de conteúdo para o Pinterest, contato com parceiros e layout de projetos. Foi uma pecinha chave para a manutenção básica da minha sanidade mental diante de TANTO trabalho e hoje ela coordena a produção de conteúdo aqui do blog.

Foto Tiago Machado

Primeiros Resultados do Blog e Instagram

Inicio de 2018 eu já estava consolidada com permutas. Viajava, fazia passeios e trocava hospedagem e serviço por publicidade. Gastava muito menos viajando, encarava permuta com profissionalismo e assim conseguia viajar mais. Muitos  convites chegavam até mim e significavam o reconhecimento do Leve na Viagem no mercado de blogs de turismo.

Me cadastrei em agências de marketing, alguns trabalhos remunerados entravam, as redes de afiliados no blog também davam um retorno mínimo, eu já sabia como organizar meu tempo para produzir mais e melhor.

Blogueira de viagem, foto por Tiago Machado

2018 foi um ano de loucura, minha vida virou do avesso e de ponta cabeça ao mesmo tempo. Muitas muitas muitas viagens, reconhecimento, crescimento do insta e do blog, muito trabalho. Durante 1 ano vivido loucamente entre tantos trabalhos, 43 viagens foram feitas (!!). Vocês têm noção disso?? Até hoje não sei como consegui, honestamente. Tinha só 30 dias de férias como qualquer outro servidor público, trabalhava 40 horas semanais e ainda tentava manter minha qualidade de vida. Saía pouco, não conseguia ver direito meus amigos e familiares, viajava praticamente todo final de semana e tinha uma rotina insana. Ia sexta para o aeroporto depois do Ministério, chegava segunda e ia direto para o trabalho, desarrumava mala e fazia a próxima. Trabalhava, malhava, cuidava da casa e tentava manter uma vida social. Ritmo louco, mas feliz de ver o resultado do que eu estava construindo.

Nesse ano perdi meu bonsai, ele morreu diante de tantas viagens; não vi tanto quem eu amo; estive ausente em muitas situações importantes; fiquei sozinha mais do que queria; faltei muito meu trabalho no MinC; fiquei devendo horas; recebi menos.
Resumindo, meu sangue era todo voltado para o Leve na Viagem e para o que ele me propocionava, mesmo sendo bem difícil.

No final do ano eu comecei uma consultoria com a Quesia Nascimento do @viajandocomigomesmo. Ela foi peça chave pra ajudar a organizar minha vida que estava do avesso, planejar ações, elaborar planos, organizar a questão financeira e me mostrar o olhar empreendedor. Meu mindset era totalmente de servidora pública e ele também precisava ser mudado.

Só faltava a coragem para jogar tudo para o alto e assumir de fato a vida de blogueira de viagem. Mas e o medo? Como eu ia largar tudo, o serviço que ia há 10 anos todos os dias, o salário fixo no final do mês, a segurança e a tal estabilidade? Como eu jogaria tudo para o ar para abraçar um sonho que ainda estava sendo desvendado? Meus pais no início achavam uma loucura, meus amigos uma utopia e eu uma insanidade possível! Que tal?!

A gota d’água

Monte Roraima no final do ano de 2018 veio para virar a chave da minha vida, foi uma experiência avassaladora. Contato extremo com a natureza, comigo mesma, saída brutal da zona de conforto, conquista, superação de medo. Comecei 2019 com tudo borbulhando na cabeça e certa de que o momento estava chegando.

Já desesperada com meu trabalho no Ministério, fiquei com torcicolo por 10 dias, parei no hospital duas vezes com remédio na veia e nada de melhora. Nesse tempo viajei com seguidoras pela primeira vez, fui pra Chapada dos Veadeiros, tive momentos lindos, mas voltei para o trabalho ainda travada, e em uma bela (mas nem tanto) segunda-feira, o copo vazou. Sem certeza absoluta, sentei na frente da chefona da área e disse: quero ser exonerada. Minha jornada nesse emprego terminou e não venho mais trabalhar amanhã.

É…. essa vida é mesmo louca…. Anos tendo a certeza que eu seria exonerada por mudanças internas, mas não. Eu mesma tive que pedir para sair, euzinha! Só eu tenho noção do peso que eu tirei das costas naquela segunda-feira.
Eu tinha um sorriso largo e leve quando tirei meu carro da garagem do trabalho pela última vez, nunca tive tanta certeza da escolha que fiz e falei pra mim mesma naquele instante: p$%& que p*#&@, estou LIVRE!!!

Foto Tiago Machado

Em 2 semanas vendi meu carro, comprei minha passagem sem volta para o Rio de Janeiro, aluguei meu apartamento, fiz uma grande festa de despedida, chorei feliz, abracei amigos e familiares, doei 4 malas cheias de roupa, vendi outra em um brechó e juntei minha singela mudança que se resumiu a 5 malas. Pratiquei o minimalismo e virei mais adepta do que nunca.

Pronto, sem saber que era impossível, eu vim aqui e fiz.

Luisa Galiza

Veja os comentários

  • Fantástico case de determinação e de sucesso em uma transição de carreira. E mais do que isso: uma inspiração.

  • Querida Luisa! Parabéns por tudo, pela coragem da mudança, pelo texto muito bem escrito, pelas lindas fotos, enfim, te desejo muito sucesso e muita leveza! Bjs Nena
    PS você se lembra de uma viagem que fizermos à praia de Pontal de Ubu, ES ?(nem 1 dia de sol rsrs) Vou procurar as fotos e te mandar!

  • Já te acompanho pelo Instagram, hoje tirei um tempinho para ler seu blog e AMEI!!!
    Por sua causa fui conhecer o Jalapão!! Que lugar divino ☼

    • Oi Talita! Que legal, super super obrigada, que bom que foi pro Jalapão e que gostou do blog tbm!! :)

      • Acompanho você desde o trekking pro Monte Roraima, 3 anos q passaram voando! Sempre checando o que a Luísa tá aprontando por aí. Tô em busca da virada de chave, e ela eh certa. Beijo Lu

  • Cheguei nesse post so agora e me encontro na mesma situacao de confinamento dentro de um emprego, querendo explorar o mundo em tempo integral porem, com muita vergonha de expor tudo no Instagram (ou blog). Agradeco a injecao de inspiracao. Quem sabe um dia, a gente se encontre nesse mundo de viajantes :)

    • Não tenha medo Tamires, muito menos dependa da aprovação do outro!! Isso não te deixará livre, melhor ou pior que ninguém. Seja quem você quiser ser!

  • Que historia linda!!!
    Me inspirou muito, tenho uma pagina no instagram e sempre achei loucura ganhar dinheiro viajando...mas agora irei acreditar em mim, em meu sonho.
    Obrigada!!!

  • Eu fiquei 7 anos trabalhando como funcionário publica mas larguei tudo faz 2 anos... com a pandemia muitas viagens foram canceladas mas sigo tentando mostrar pras pessoas que viajar vai muito além de fazer malas .

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